Por que o jornalismo participativo não decola nos portais?

por Juliano Spyer

As soluções implementadas hoje do chamado jornalismo participativo, colaborativo ou cidadão pelos principais portais de notícia brasileiros têm de novo só o nome, porque geralmente funcionam da mesma forma como as antigas seções de cartas do leitor.

A chamada internet comercial existe há quase 20 anos e os veículos de comunicação continuam se justificando: - "Precisamos filtrar a informação enviada pelos usuários para garantir a correção da notícia e não comprometer a reputação do veículo." Mas desde 1997 o site de notícias tecnológicas Slashdot popularizou a auto-moderação, que significa usar soluções para medir a reputação de usuários e compartilhar a filtragem do conteúdo entre os mais comprometidos com o site.

A ação descentralizada dos indivíduos - cada qual votando no que gosta ou não gosta - faz emergir uma ordem que revela de maneira surpreendentemente precisa os interesses da comunidade. Essa solução é mais barata porque usa a contribuição voluntária de centanas, milhares ou milhões de usuários para fazer a triagem do conteúdo. É também mais eficiente porque os editores não precisam mais advinhar o que a audiência quer. Por que nenhum dos grandes quer saber disso?

A justificativa de que o filtro existe para resguardar a reputação do veículo encobre a motivação menos nobre: a de que o compromisso de veículo de comunicação não é exclusivamente com seu público. O poder de influenciar opiniões é usado em benefício próprio ou vendido pelo melhor preço, de maneira explícita como nos anúncios publicitários, ou velada como no caso do dossiê sobre a Veja.

Em um evento recente sobre jornalismo online, responsáveis por sites de notícia reclamavam da quantidade de conteúdo irrelevante que chega nas áreas participativas como flagrantes de acidentes, denúncias sobre problemas locais como buracos nas ruas. Mas as pessoas observam o que passa e o que fica retido nos filtros editoriais. Informações críticas podem colocar o veículo em situação delicada com governo ou anunciantes. É aceito o material sobre curiosidades, aberrações ou denúncias que quando muito servem para alimentar comentários como: - Todo político é corrupto... - Olha o que fazem com os nossos impostos... - Ricos nunca são presos...

A situação é muito parecida com a das gravadoras que lutam contra a pirataria argumentando o nobre interesse de defender os interesses dos artistas. Mas ficam em silêncio sobre a indústria do entretenimento que paga o famoso jabá para as FMs tocarem uma faixa e alavancarem as vendas de CDs. O consumidor não só é forçado a comprar um disco inteiro para escutar uma música, como ainda precisa pagar pela embalagem, pela distribuição e - claro - pela campanha de marketing.


Jornalismo participativo depende de relacionamento

Não existe um relacionamento do jornalista com o colaborador, o que descaracteriza o ambiente enquanto “comunidade”. ... Os cidadãos repórteres não se conhecem. ... Não há sentimento algum de pertença. Sendo assim, qual o interesse que essa galera vai ter para moderar aquele conteúdo e ajudar o espaço - que nem é delas - a crescer? Esse relacionamento jornalista-colaborador é requisito para um sistema de auto-moderação.

Acho que o relacionamento é o ponto central no processo de renovação do ofício do jornalista.

O jornalista está desacostumado a ouvir e a audiência está despreparada para falar. Dá trabalho começar esse diálogo, mas é o caminho. Agora, discordo que a utilização da auto-moderação dependa disso. O Digg.com e outros sites não surgiram como veículos jornalísticos, não têm redação, não produzem conteúdo original, e o relacionamento que existe, quando existe, é entre os participantes.

2 comentários:

  1. Concordo. O Jornalismo precisava de um fato desta magnitude, estavam sedentos por novidade. Mas sabe, eu vi muita humanidade nos repórteres... muitos se emoconaram, choraram. Acho que no fundo todo jornalista quer participar de uma coisa grande, colossal!! Esta é uma coisa que motiva o trabalho do jornalista... a trivialidade cansa, concorda? Ah mas para nós, negros e pardos, você não pode imaginar a coisa como ela foi. Foi algo que supera, transborda... é um sentimento de aceitação, como fazer as pazes, sabe? Aquela cena da família chegando para falar aos Estados Unidos está imortalizada em nossa memória. O mundo deve muitas coisas aos negros, mas o que sempre queremos mesmo é uma espécie de dignidade, semelhante a do branco. Queremos só o mínimo e até isso é-nos rejeitado. Agora, com esta vitória dantesca, tudo vai mudar... o que você acha? ótima matéria, já sou um seguidor...rs

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  2. É impossível negar o que aconteceu. Chorei assistindo a vitória do Obama. Mas não podemos esquecer que não é função do jornalista comemorar, e sim, informar. Mais uma vez agradeço pela sua presença. E, acho que estamos na matéria errada. Essa não é a do Obama, rs.

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