de Carl Sagan

 

Uma lição de humildade

por Gustavo Nolasco

O Pálido Ponto Azul de Carl Sagan é o ápice do pensamento do astrônomo. Ele era contra a fé [O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida]. Contra a igreja [A História está repleta de pessoas que, como resultado do medo, ou por ignorância, ou por cobiça de poder, destruíram conhecimentos de imensurável valor que em verdade pertenciam a todos nós. Nós não devemos deixar isso acontecer de novo]. Contra qualquer ligação espiritual [A vida é apenas uma visão momentânea das maravilhas deste assombroso universo, e é triste que tantos se desgastem sonhando com fantasias espirituais]. Contra o ego [E se o mundo não corresponde em todos os aspectos a nossos desejos, é culpa da ciência ou dos que querem impor seus desejos ao mundo?]. E mais contra a fé [Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar]. Ele acreditava em ETs [Se não existe vida fora da Terra, então o universo é um grande desperdício de espaço]. E se assustava com isso [O que é mais assustador? A idéia de extraterrestres em mundos estranhos, ou a idéia de que, em todo este imenso universo, nós estamos sozinhos?]. Tinha uma visão sobre o universo muito peculiar [O universo não foi feito à medida do ser humano, mas tampouco lhe é adverso: é-lhe indiferente]. Ele sabia que nós somos parte do universo e não o contrário [Nós somos uma maneira do Cosmos conhecer a si mesmo].

Além disso


de Lea Van Steen e Marcos Sachs


E quando chove... escondem-se

por Gustavo Nolasco

Todos os dias – e cabe aqui meses e anos - eles invadem nosso campo de visão, eles nos invadem, sendo cordiais ou não, com ou sem sorriso. Do camarote do transporte público, meu privilégio, ou da arquibancada, quando estou na posição de caronista. Oferecem a mim, passageiro, por, ocasionalmente, não ser possível oferecer ao guiador. Ao passível de acidentes. Se sol, boné. Mas e quando chove? O que são dos vendedores de rua? O toldo mais próximo, a corrida até a loja de conveniência, com toldo. Nunca o motivo da embalagem, nunca o abrigo do contratador. Aos pares são mais felizes, os vendedores de rua. Nem sempre tão jovens quanto se espera. Talvez pelo conteúdo vivido, alguns aparentam já ter experimentado o sexo, e até mesmo a maternidade. Isso assusta, às vezes. Assusta a mim, que os reparo. Imagine as conexões neuronais que flutuam pela mente dos vendedores de rua enquanto exercem o ofício. Eles vêem muitas faces, e têm imaginação. Se envolvem? Quem se importa mais com o cliente? O especialista ou o vendedor de rua? Não sei se gosto deles. Entendo pouco das motivações que os movem. E menos, do que refletem. Interesso-me por eles, mas ainda não sei se merecem. Certa vez, na pressa do comércio juvenil, o responsável pela efetivação da venda não conseguiu exercer sua função, gentilmente, e arremessou o produto para dentro do veículo. Ele arremessou e eu era o passageiro, sempre. Esperava que eu pagasse? Nos dias de chuva eu não os vejo. Fazem falta? Sim.

Além disso


O Missão Repórter preparou um especial para estimular a discussão sobre a padrononização de apresentadores e repórteres de TV. O resultado você confere logo acima.

Em busca de um "televidão"

por Antônio Brasil

Você, jovem estudante que sempre gostou muito de escrever e de aparecer, finalmente decidiu que quer mesmo ser ... "jornalista de televisão". Apesar de todos os problemas, das críticas profissionais, das ameaças paternas e de gente como Stanislaw Ponte Preta – que divulgava "pérolas" como "se você continuar se comportando mal, meu filho, te obrigo a ver TV" –, mesmo assim você decidiu ir à luta em busca de emprego em telejornalismo. Ou seja, você também está em busca de um "televidão". Com muita vontade e um pouco de sorte, você vai aparecer na TV, ficar famoso, ganhar muito dinheiro, viajar o mundo inteiro, se tornar correspondente internacional ou, quem sabe, candidato a cargo eleitoral. Nem mais nem menos e, aqui entre nós, nada mal.

Já temos o caminho e o destino. O problema é que você não sabe por onde começar. Então, vamos lá. Qual seria a melhor maneira para se tornar um jornalista de televisão, de preferência bem-sucedido? Antes de tudo, não perca o seu tempo estudando muito. Em televisão, todos garantem que o importante é ter boa aparência, ser simpático, comunicativo, não criar muitos problemas para os seus entrevistados e, obviamente, menos ainda para os seus patrões poderosos.

Procure se vestir bem, esteja sempre por dentro de tudo para ter a conversa atualizada mas não muito aprofundada. Evite entediar as pessoas. Isso nos leva a uma das principais recomendações para o sucesso na TV: nunca, jamais, em tempo algum seja chato ou aborreça as pessoas falando de coisas sérias. Em televisão esse parece ser considerado um crime "hediondo" inimaginável, inclusive em jornalismo. Perde pontos, audiência e compromete o seu futuro.

Procure contar todas as suas histórias em no máximo 1 minuto e 30 segundos. Demonstre ouvir a todos atentamente por no máximo... 10 segundos. Depois, interrompa invariavelmente com alguma gracinha ou comentário mais irônico que revele a sua atenção, mas que deixe bem claro quem é que manda aqui!

Para isso, use sempre a sua arma. Essa eu ouvi, com enorme surpresa, de uma estrela da televisão: "A arma do repórter é o seu microfone". Então, mantenha essa sua "arma" sempre bem carregada e, em caso de dúvida, contrarie a regra: atire primeiro, e faça as perguntas depois. Não tem como errar. Qualquer pergunta é sempre melhor do que ficar calado, com cara de bobo. A última coisa que repórter de televisão costuma fazer mesmo é ouvir o que o entrevistado tem a dizer. Ele é uma máquina de fazer perguntas, principalmente durante as coletivas. Pergunte sempre, mesmo que o entrevistado já tenha respondido. Perguntar faz você e a empresa aparecerem e ouvir, cansa.

Inimiga da perfeição

Entrevistado em televisão, como já sabemos muito bem, é cúmplice, coadjuvante ou vítima. É só escolher. Dessa escolha vai depender o seu futuro profissional. Dificilmente o entrevistado é considerado "fonte de informação". Isso também explica porque grande parte dos jornalistas de televisão respeita tanto o poder. Eles parecem mais interessados em fazer perguntas para "levantar a bola" do entrevistado. Com isso, quem sabe, garantam uma aposentadoria precoce e bem remunerada como assessor de imprensa de político ou empresário poderoso. Então, não se esqueça: nunca faça perguntas embaraçosas. Exceção aberta se a vítima, quero dizer, se o entrevistado for gente comum, ingênua e indefesa. Nesse grupo devemos incluir pobres, trabalhadores, eleitores, tietes e demais grupos sociais que podem até informar o jornalista, mas que certamente servem mais para entreter o público durante o que costumamos chamar de "povo fala".

É muito importante aprender a fazer um bom "povo fala". Quase todas as matérias de jornalismo na TV sucumbem à eterna tentação de convocar "a voz do povo", também conhecida como a "voz de Deus". Tudo para dar um resquício de credibilidade à recorrente desculpa de falta de tempo e de apuração jornalística. Escolha sempre gente diferente para que pareça um "universo de pesquisa" verdadeiro, amplo, diversificado e politicamente correto. Gente que fale somente frases desconexas mas sempre, de preferência, muito engraçada. Ninguém está mesmo interessado no que o povo tem a dizer. O importante é confirmar o que a pauta, o editor e o chefe de reportagem acham que seja a verdade.

Seja sempre rápido no que faz e venere de forma inequívoca a palavradeadline – em inglês, para você ser considerado cool. O negócio não é estar certo mas ser o primeiro a dar a notícia. Mesmo que você se arrisque a cometer uma "barriga" – um pequeno erro que pode acidentalmente comprometer a vida de pessoas indefesas –, nunca se arrisque a perder uma entrada no telejornal ou, pior ainda, ser batido pela concorrência. Mesmo que essa competição não exista mais e que o seu telejornal, apesar dos pesares, ainda seja líder solitário de audiência há muitos anos. A pressa, sabemos, é inimiga da perfeição mas faz muito sucesso em televisão. No fundo, ninguém se importa mesmo e ainda não existe um monitoramento ético ou funcional da nossa profissão.

Depois é só correr para a torcida, quero dizer, para gravar a sua "passagem", preparar o seu "ao vivo" e aguardar o aplauso ou o ibope.

Estatísticas aborrecidas

Faça sempre questão de usar o cabelo certo e a indumentária apropriada. Se estiver no meio de um incêndio ou de um tiroteio portando a sua "arma", procure sempre vestir um terno e gravata ou o blazerzinho básico da moda. Não se importe de se sentir às vezes um pouco ridículo, considerando o teor da matéria e o local. Considere, sim, o padrão de qualidade da emissora. Não se preocupe nem se arrisque a olhar em volta e ver que ninguém está vestido igual a você. Jornalista de televisão tem que estar sempre elegante, manter a aparência e, se possível, cultivar uma certa distância do seu alvo ou objeto – o público. Tem que ser "diferente" e quase sempre "indiferente". Não pega bem se emocionar. Mas fazer alguém chorar no meio da sua matéria, ao contrário, marca ponto.

Procure levar a vida achando que tem sempre uma câmera dirigida para você. Quem sabe, várias. Você pode não ter sido selecionado para o Big Brother Brasil, Casa dos Artistas ou No Limite, mas bem que merecia. Se nunca participar pode sempre apresentar. Não importa. Uma vez jornalista de televisão, a notoriedade é um estado de espírito. Tanto faz que ninguém ainda o reconheça na rua ou peça autógrafos em todos os cantos. Bem sabemos que é só uma questão de tempo.

Chegue sempre atrasado às coletivas para valorizar a sua presença e a importância do seu meio. Não se preocupe. O entrevistado vai esperar porque se não aparecer na televisão, não é notícia. Os colegas, é claro, vão morrer de ódio e recebê-lo com o maior desprezo. Mas um dia eles também vão acabar seduzidos pelo meio, assim como tantos outros que antes também falavam tão mal da televisão e, hoje, estão lá na telinha fazendo o maior sucesso. São os novos artistas ou emergentes do jornalismo de TV.

Para começar na profissão você precisa fazer muitas coisas e deixar de fazer outras tantas. Fazer curso de jornalismo, por incrível que pareça, ainda pode ser útil. Afinal a gente nunca sabe quando a obrigatoriedade do diploma pode voltar. No Brasil, tudo é possível. De todo o modo, a maioria dos cursos de comunicação não reprova ninguém mesmo, tem uma vida social intensa e não exige muito estudo. Além disso, quase todos os seus colegas de faculdade possuem pelo menos uma coisa em comum: odeiam física, química e principalmente matemática. Ou seja, tudo aquilo que possa ao menos parecer "preciso" ou "exato". Aqueles números, estatísticas e dados aborrecidos estão definitivamente afastados da sua vida e estarão distantes da apuração dos fatos. Televisão não é informação, é emoção. Muitos números ou dados podem confundir e entediar o telespectador.

Não custa sonhar

Para diversos analistas, uma boa história no meio televisivo é hoje mais importante do que apurar a verdade. Afinal, o telejornalismo moderno conseguiu o que parecia impossível: colocar os fatos em segundo plano. Eles interferem com a fluidez e o ritmo necessários para um bom "show de entretenimento". Partiu-se para a seleção prioritária de assuntos mais leves, com maior conteúdo humano ou mesmo animal – exótico, é claro. Tudo para jamais aborrecer o telespectador e dar muita audiência. Nesse novo jornalismo de mercado, notícia ruim tira audiência e afasta o "cliente", fazendo com que este debande para competidores que oferecem os novos programas, os reality shows ou, pior ainda, as novelas mexicanas. Esses são programas menores que insistem em competir com a "realidade de verdade" dos nossos telejornais.

Para se tornar jornalista de TV também é preciso freqüentar os lugares da moda, os shows e as festas com artistas em evidência porque seguramente é lá que os jornalistas neófitos vão encontrar e ter a oportunidade de conversar com os seus ídolos, os seus futuros colegas. Nessas ocasiões, pedir estágio, autógrafos, emprego ou dicas para entrar no meio está fora de cogitação – não pega bem, é coisa para os ingênuos. Você, que quer ser jornalista de TV, ao contrário, deve buscar, improvisar, batalhar de forma original o seu próprio caminho. O meio não admite nem aprova uma organização clara das regras de ingresso. É tudo sempre muito estranho e nebuloso.

As provas de seleção para o "televidão" dificilmente são anunciadas de forma clara e realizadas de maneira transparente. Em algumas emissoras, essa "seleção" é quase um ritual secreto para poucos iniciados. Não tem regras definidas nem divulgação objetiva dos resultados. A única certeza é de que alguns privilegiados pelo berço, pelo poder ou pela posse de contatos (que você obviamente não tem) encontrarão o caminho para o emprego em telejornalismo com mais facilidade. E não adianta culpar o pistolão, o Q.I. (quem indicou) ou a existência de uma "panelinha". Um meio que adora investigar e exigir a transparência dos outros obviamente não pratica o que professa. É um típico caso de "faça o que eu falo mas não faça o que eu faço". Talvez o jornalismo de televisão seja realmente "hereditário" ou destinado somente a poucos iluminados. Quem sabe a ciência ou o próprio jornalismo investigativo um dia expliquem o inexplicável. Por enquanto, só existem muitas dúvidas.

Você ainda que ser jornalista de televisão? Não desistiu? Quer mesmo enfrentar essa "fogueira das vaidades", em busca de um "televidão"? Parabéns. Quem sabe você seja mesmo diferente e ajude a fazer um jornalismo de TV melhor. Não custa sonhar. Então, mãos à obra. Pare de ver tanta TV, comece a lutar pelo seu espaço e confirme esse sábio conselho do velho Noel Coward: "Televisão é para se aparecer, não para se assistir".

Além disso


Crise financeira mata

por Gustavo Nolasco

Os problemas na economia mundial já deixaram empresários e acionistas desolados. Mas quem disse que somente a classe A iria sofrer? A população perdeu crédito. Quando esse dinheiro é resultado da sorte mal dividida, temos a fórmula perfeita para tragédia. Estamos, de acordo com a publicidade brasileira, beirando o natal. Nesse período, obviamente, é hora de consumir. Mas a maioria da população, segundo o IBGE, não vai poder movimentar a roda da fortuna brasileira.  E não é só questão econômica. Imagine participar de um sorteio, daqueles que se juntam outros tantos apostadores, não pagar sua parte e, descobrir que a galera que pagou vai dividir vários milhões. É por essa situação que seu Dorgival é suspeito de matar um dos milionários. Seria bom pensarmos nos Dorgivais que não apostam, nos que não comem e, por conseqüência, matam, de verdade.

Além disso


Jovens símbolos

fonte: Fantástico

A menina Hannah Jones, de apenas 13 anos, precisa de um transplante de coração, mas não quer ser operada. E as autoridades médicas têm que respeitar a vontade da paciente. 

*

Nujood Ali de apenas dez anos de idade se torna um símbolo para mulheres de todo planeta. Ela foi obrigada a se casar. Mas resolveu desafiar os costumes tribais do mundo onde vive e conseguiu se divorciar do homem que a violentava. 
 

Antes e depois da hora

por Gustavo Nolasco

Britânica, Hannah contou com o apoio da lei de seu país e pôde escolher morrer, em seis meses. Nujood foi contra todos, foi ao encontro de um juiz por conta. Enfrentou a desaprovação dos pais, que tinham pena dela, só. Os pais estão errados? A verdade é que ninguém sabe. A vontade da pequena britânica e a coragem da menina do Iêmen viraram símbolos. Nujood é uma das mulheres mais importantes de 2008. A cultura tribal de seu país está errada? Hannah quer morrer, cansou de ser doente. Ela tem treze anos e desistiu da vida. Mais dolorido que pensar na morte escolhida e na pedofilia legalizada, é receber essa mensagem de duas crianças. Nesse caso, não foram elas o futuro, marcaram o presente. Hannah nem vai ser adulta. Nujood não vai se casar. De certa maneira, duas famílias interrompidas, antes da hora e depois. 

Além disso

de Rafael Primo. Com ele mesmo e Bárbara Paz.

Além disso

A onda é dublar

por Gustavo Nolasco

Michael Jackson foi o artista da vez. Para os universitários americanos, detentores dos direitos autorais – inexistentes – da mania Lip Dub, Thriller é a música que merece uma produção especial. Se você ainda não se ligou sobre o que significa Lip Dub, calma, a solução está aqui mesmo.

Além disso

Das poucas coisas que devemos saber

por Manoel de Barros

 Penso que devemos conhecer algumas poucas cousas sobre a fisiologia dos andarilhos. Avaliar até onde o isolamento tem poder de influir sobre os seus gestos, sobre a abertura de sua voz, etc. Estudar talvez a relação desse homem com as suas árvores, com as suas chuvas, com as suas pedras. Saber mais ou menos quanto tempo o andarilho pode permanecer em suas condições humanas, antes de se adquirir do chão a modo de um sapo. Antes de se unir às vergônteas como as parasitas. Antes de revestir uma pedra à maneira do limo. Antes mesmo de ser apropriado por relentos como lagartos. Saber com exatidão quando que um modelo de pássaro se ajustará à sua voz. Saber o momento em que esse homem poderá sofrer de prenúncios. Saber enfim qual o momento em que esse homem começa a adivinhar.

Do começo da historinha

por Abonico

Hunter S. Thompson criou o gonzo, estilo de reportagem no qual o autor do texto se transforma no personagem principal da notícia. Contudo, a loucura e a imprevisibilidade do americano foi tanta que até na hora de sua última história ele pegou todo mundo de surpresa: enquanto conversava ao telefone com a esposa, ele, que sobrevivera a overdoses no passado, disparou um tiro contra sua cabeça.

Do tiro

por Hunter S. Thompson

"Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de caminhar. Chega de curtição. Chega de nadar. 67. São 17 anos além dos 50. 17 anos mais do que eu precisava ou queria. Tédio. Vivo de mau humor. Não tem mais diversão -- para ninguém. 67. Você está ficando avarento. Aja como se tivesse sua idade. Relaxe -- não vai doer"

Do que ele deixou

por Furio Lonza

Na verdade, o estilo gonzo (por ele mesmo assim denominado) de escrever teve mais influência sobre a liberdade de encararmos a vida estúpida e autofágica nas grandes cidades do que propriamente na maneira de redigir matérias jornalísticas. Uma pena que isso não tenha se entranhado na cabeça de nossos editores (poderíamos ter tido nossa versão do National Lampoom), uma pena que não tenha gerado frutos abaixo do Equador (poderíamos ter tido nosso Michael Moore, por exemplo. Imaginem o estrago que ele estaria fazendo por aqui), uma pena que nossas minorias étnicas não tenham se indignado o suficiente (poderíamos ter tido nosso Malcolm X, Angela Davis e Martin Luther King), uma pena que nossa civilização tenha descambado justamente naquilo que Hunter Thomson mais odiava.

Do texto

por Hunter S. Thompson

Uma das principais regras genéticas para a criação de cachorros, cavalos ou qualquer outro tipo de puro-sangue é que o acasalamento entre parentes próximos tende a ampliar os pontos fracos numa linhagem, assim como os pontos fortes. Na criação de cavalos, por exemplo, é definitivamente arriscado cruzar dois cavalos rápidos que também são muito loucos. A prole provavelmente será muito rápida, mas também muito louca. Então o truque na hora de cruzar puros-sangues é reter os traços bons e peneirar os ruins. Mas o cruzamento de humanos não é supervisionado com tanta sabedoria, particularmente numa sociedade sulista rígida, onde o cruzamento entre parentes bem próximos não é apenas estiloso e aceitável como bem mais conveniente - para os pais - do que deixar a prole livre para encontrar seus próprios parceiros, pelas suas próprias razões e às suas próprias maneiras.

Nada é divertido quando você precisa fazer aquilo - muitas vezes, dia sim e o outro também - para não ser despejado. Com o tempo enche o saco. Então é um negócio bem raro um escritor trancado em casa, que paga aluguel, se meter com um trampo que, mesmo em retrospecto, foi uma tiração de sarro fabulosa e enlouquecida do começo ao fim… e ainda por cima ser pago para escrever esse tipo de enrolação doentia, olha, parece realmente estranho.

Não existe nada de romântico numa batida feia, e o único consolo é o choque anestésico que vem com a maioria dos ferimentos (…). Essa aceitação despreocupada de derramamento de sangue é a chave para o terror que eles inspiram nas pessoas certinhas (…).

Do Brasil de raros

por Gustavo Nolasco

 Aqui existem duas pessoas reconhecidas por envolvimento com o jornalismo gonzo. Arthur Veríssimo – aquele que comeu escorpião pela primeira vez no Domingo Legal -, e André Felipe Czarnobai – que escreveu uma tese sobre o assunto. Fora eles, são outros gatos pingados que descobriram por acaso o Hunter, mas acredito que são maioria os estudantes que pegam seus canudos sem nunca ter ouvido a palavra tão sonora que Thompson escolheu para seu estilo. Gonzo. É evidente que há um freio nas instituições em relação aos afluentes do New Journalism. Até porque, em certo momento ir contra tudo dito antes é arriscado para a formação de jornalistas globais, que sem dúvida aumentam o prestígio de qualquer curso. Caso você já conheça, e nutra um mínimo de interesse por essa modalidade, o mercado te espera, possivelmente bem longe. Mas não há porque desanimar, afinal, Jornalismo Literário é quase cult no Brasil. Daqui a pouco o gonzo pega carona.

Do que o Arthur pensa

por Gustavo Abdel Massih

Por que o jornalismo literário não está na mídia?

Porque os caras que controlam não permitem. Bom, mas até o dono de jornal, o Otavio Frias [da Folha], ele até fez algumas matérias de grandes investigações. Escreveu “A queda livre”, enfim, teve algum espaço. A Trip dá um espaço não muito grande... pois é legal ter fotografia. Com fotografia fica fácil a leitura. Eu tento levar uma reportagem que mexa com os sentidos. Tento buscar sempre um jeito de despertar. Tirar a pessoa do lugar comum. Por exemplo, ele está no metrô lendo a matéria, no avião, na privada, criando ruídos dentro dela. Senão, pra que é que eu estou fazendo alguma coisa? Eu gosto muito dos jornais de sábado e domingo, por que aparecem boas reportagens. É um lixo, mas eu leio tudo, a Folha, o Estado, O Globo, Jornal do Brasil.

Do que o Czarnobai pensa

por Beatriz Caetana

Você acredita que há uma falta de interesse do estudante de Jornalismo sobre essa linguagem ou é da imprensa de não divulga-la?

Acho que o principal problema é a falta de TALENTO. O maior erro do meu trabalho, na verdade, foi não ter falado, de uma forma mais clara, que o grande lance por trás do gonzo jornalismo não é a captação participativa ou o uso da ironia, das técnicas ficcionais e da primeira pessoa na redação. É o TALENTO de quem pratica. Não dá pra exigir que TODO jornalista seja um bom GONZO JORNALISTA. A grande verdade é que só se faz gonzo jornalismo com um escritor extremamente talentoso e, sobretudo, CARISMÁTICO. Sem isso, nada de importante pode ser produzido. No mais, o interesse dos estudantes e os espaços na mídia existem, sim. Mas, como eu disse, falta TALENTO. E isso simplesmente não se pode ensinar.

Do que é curioso

Thompson era fã do escritor Ernest Hemingway, que em 1961 também se matou com um tiro de fuzil; Era amigo de Johnny Depp, Bill Murray, Sean Penn e do músico Warren Zevon; Inspirou Spider Jerusalem, protagonista da HQ Transmetropolitan, de Warren Ellis; Era viciado em escrever e ler cartas.

Além disso

Ritual da morte

fonte: G1


Uma americana que foi recrutada pela internet para participar de um ritual de iniciação na Ku Klux Klan foi baleada após tentar abandonar o encontro. Segundo autoridades, o ritual de iniciação já havia começado quando ocorreu o homicídio. O grupo tentou esconder o corpo próximo a uma rodovia e queimou os pertences da vítima, informaram autoridades da região. Mas o plano falhou: na terça-feira, um líder local da Ku Klux Klan, uma organização que defende a supremacia branca, foi preso sob acusações de assassinato e outros sete membros foram indiciados por participação no crime. O chefe de polícia Jack Strain disse que o líder do grupo, Raymond "Chuck" Foster, de 44 anos, atirou e a matou quando ela pediu para voltar para a cidade.


Presta atenção em 'nóis' pretinhos

por Gustavo Nolasco

A americana assassinada em Oklahoma não foi identificada, mas os responsáveis por sua morte estampam os principais veículos de comunicação do mundo. A Ku Klux Klan, oito dias depois do símbolo negro se tornar poderoso, foi acusada de matar uma moça porque ela teria abandonado a reunião de iniciação, a qual a tornaria membro da seita e faria com que os credos da KKK se espalhassem por Louisiana. Foi um meio estranho matar uma jovem branca para lembrar aos negros que eram eles quem deveriam morrer. A KKK mata dos seus para aterrorizar um povo que não está afim de sentir medo. Pelo menos até Barack ter sua primeira noite de sono na casa, que por pura simbologia, é branca.     

Além disso

O que o filme do Pablo Villaça nos diz?

Além disso


Dúvidas

por Gustavo Nolasco

Na grande luta entre mais e melhor, a maioria dos pretensos à consciência escolhe qualidade, ou seja, melhor. Mesmo porque, ditados populares – ‘é melhor qualidade do que quantidade’ – se encarregam de nos implantar esse método de querer coisas, substancialmente boas. Em jornalismo, rola o boato – sim, no jornalismo -, de que a corrente que mais corresponde ao bom jornalismo e, que é desejo de grande parte dos profissionais fazer parte, é a chamada literária. Pois bem, dá mais prazer escrever ou ler jornalismo literário? Com pretensão literária, o texto jornalístico ganha a durabilidade da literatura?  Jornalismo de não-ficção é mais aprofundado? Hardnews é superficial, ou apenas diferente? Jornalismo literário tem algo a ver com jornalismo engajado? Na dúvida, vamos entender melhor o que é; como surgiu; e como ganhou espaço o “novo jornalismo”.

A História

por Matinas Suzuki Jr.

Como o dry martini e a voz de Frank Sinatra, o jornalismo literário é uma das grandes instituições americanas que fizeram o século XX. Ele tem tanto prestígio nas estantes americanas que chegou a virar uma categoria própria, chamada literatura de não-ficção, ensaio ou, como fizeram seus barulhentos autores nos anos 60, “novo jornalismo”.

O Conceito


O jornalismo literário retoma a idéia de que a “arte de contar boas histórias” é parte essencial do jornalismo. No momento em que a imprensa, por força das mudanças acentuadas da vida contemporânea, encontra-se em fase de procura de novos caminhos, uma volta às grandes reportagens do jornalismo literário poderá ser útil para se desenhar alguns modelos inovadores, principalmente para aqueles que acreditam que o futuro dos jornais e das revistas está na diferenciação pela qualidade (não só da informação e da análise, mas também do texto).

A Publicidade

O jornalismo literário ganhou um amplo público de leitores por meio de publicações como The New Yorker (até hoje seu principal templo), Esquire, The New Republic e Rolling Stone, entre outras, e pelo texto de autores como Norman Mailer, Truman Capote, Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Joseph Mitchell, Lilian Ross e E. B. White, para citar apenas alguns dos nomes.

Ei, você aí!

escrito por Carlos Ribeiro

editado por Gustavo Nolasco

É preciso, sim, alguma dose, mínima que seja, de indignação. Num tempo em que o mercado coopta artistas e intelectuais (ou pseudo-intelectuais) para bobagens como Faustão, Sílvio ou o famigerado Big Brother, é necessária a existência de profissionais que não estejam preocupados apenas em engordar a sua conta bancária.

 “Outro dia vi um filme inglês. Num pub, um policial diz ao outro:

- Nossos ícones, nossos modelos são vaidosos, vazios, cruéis, corruptos e prepotentes. Somos policiais e deveríamos estar protegendo o povo contra essa gente.

E que fazemos? Defendemos a canalha e botamos nossa gente na cadeia.

E isso se passou na Inglaterra. Imaginem o diálogo de dois policiais brasileiros:

- Estou preocupado.

- Por quê?

- Se liberarem a droga vamos perder 900% do salário.

E a nossa grande imprensa continua comentando esse verdadeiro banquete no pântano como se fosse alguma coisa para valer. Pergunto: tem salvação? Ei, você aí, que está vendo a Favorita, estou perguntando: tem salvação?”

Além disso


Castigo Público

fonte: Jornal  da Globo

O Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul vai examinar o caso: acredita que o prefeito pode estar cometendo improbidade administrativa. “Isso é inusitado, é primitivo, e não é civilizado”, declara Porfírio Peixoto, presidente do Tribunal de Contas – RS.


E se a moda pega?

por Gustavo Nolasco

Já pensou em como as fachadas de órgãos públicos, aqui da região, ficariam cheias? Ou não. Até porque em São Paulo, da capital até o lugar mais profundo do interior, rola o discurso da  fidelidade partidária, mesmo entre os funcionários públicos concursados. Não sei bem se a maioria dos paulistas acha o termo bonitinho, ou se o respeita. A verdade é que o medo de ser acusado infiel, assombra as mais prósperas carreiras. O adversário pode usar a ‘pulada de cerca-pública’ na próxima campanha e fazer com que eleitores castiguem, nas urnas. Uma vez fora da esfera pública, a ‘equipe de apoio’ acompanha. Se isso acontece, sobra espaço no cantinho da disciplina. 

Além disso



Eles querem ser policiais

por Gustavo Nolasco


Para 2009, a carreira mais concorrida na Fuvest – que organiza todas as provas das universidades estaduais de São Paulo - foi a de oficial da Polícia Militar. E a segunda mais disputada? A de oficial da polícia militar, feminino. A prova é considerada difícil, ainda mais com tanta concorrência. Então, já sabe, como diria um famoso capitão: - Ninguém vai subir, vai ficar todo mundo quietinho, aí no Ensino Médio!

Além disso


Cantar pode salvar a sua vida

por Gustavo Nolasco

Problemas de saúde matam mais do que homicídios, no Brasil. Foi o que revelou a última pesquisa divulgada, sobre o assunto, pelo Ministério da Saúde. O maior causador de mortes são os problemas circulatórios, que além das causas conhecidas - excesso de peso e pressão alta -, podem ser causados, também, pelo estresse. Mas algumas pessoas conseguiram driblar o caos do dia-a-dia, com uma solução bem simples: cantar. É isso mesmo, música. A dica é esquecer os problemas e soltar a voz. E já que remédio mais natural não há, porque não entrar na onda de uma turminha, lá dos Estados Unidos, e cantar sem incomodar o vizinho, caso você não seja tão afinado. A Lip Dub (dublagem) está fazendo a cabeça de jovens internautas, por todo o mundo. Tanto, que universitários de alguns países desenvolvem vídeos profissionais. Quem não dispõe de tanta tecnologia, não precisa se preocupar.  Pegue uma câmera digital – que grave vídeos -, um player de música, e pronto. Depois é só sincronizar a gravação com a música escolhida em qualquer editor de imagens e soltar na web. Tá nervoso? Vamos dublar?  

Além disso


Prédios de universidades federais estão abandonados

fonte: Jornal Hoje


O ministério da Educação afirma que o programa de reestruturação e expansão das universidades federais, o Reuni, prevê um desembolso de R$ 2,4 bilhões até 2012.

 

Chove só nas públicas?

por Gustavo Nolasco

De repente, pela terceira vez este ano, escuro nas faculdades particulares de Limeira. No último dia 29, alunos, vans, carros, todos de volta para casa. A luz se apagou e a água desceu. Corredores alagados, salas vazias. Nada foi aprendido nesse dia. Mas o escuro não foi total. No Instituto Superior de Ciências Aplicadas (ISCA) luzes de segurança – aquelas de 60watts – garantiram que milhares de universitários pudessem descer as escadas sem se quebrar. Não vimos nenhuma instalação de protesto do curso de artes, o ISCA não tem. O governo é acusado de não liberar verba suficiente para manter as universidades federais. Não me lembro de que tenha havido algum movimento de acusação sobre a manutenção das particulares de Limeira. Se alguém se recordar, por favor, me corrija. Não quero cometer injustiças com o destino do dinheiro dos graduandos.

Além disso




Por que o jornalismo participativo não decola nos portais?

por Juliano Spyer

As soluções implementadas hoje do chamado jornalismo participativo, colaborativo ou cidadão pelos principais portais de notícia brasileiros têm de novo só o nome, porque geralmente funcionam da mesma forma como as antigas seções de cartas do leitor.

A chamada internet comercial existe há quase 20 anos e os veículos de comunicação continuam se justificando: - "Precisamos filtrar a informação enviada pelos usuários para garantir a correção da notícia e não comprometer a reputação do veículo." Mas desde 1997 o site de notícias tecnológicas Slashdot popularizou a auto-moderação, que significa usar soluções para medir a reputação de usuários e compartilhar a filtragem do conteúdo entre os mais comprometidos com o site.

A ação descentralizada dos indivíduos - cada qual votando no que gosta ou não gosta - faz emergir uma ordem que revela de maneira surpreendentemente precisa os interesses da comunidade. Essa solução é mais barata porque usa a contribuição voluntária de centanas, milhares ou milhões de usuários para fazer a triagem do conteúdo. É também mais eficiente porque os editores não precisam mais advinhar o que a audiência quer. Por que nenhum dos grandes quer saber disso?

A justificativa de que o filtro existe para resguardar a reputação do veículo encobre a motivação menos nobre: a de que o compromisso de veículo de comunicação não é exclusivamente com seu público. O poder de influenciar opiniões é usado em benefício próprio ou vendido pelo melhor preço, de maneira explícita como nos anúncios publicitários, ou velada como no caso do dossiê sobre a Veja.

Em um evento recente sobre jornalismo online, responsáveis por sites de notícia reclamavam da quantidade de conteúdo irrelevante que chega nas áreas participativas como flagrantes de acidentes, denúncias sobre problemas locais como buracos nas ruas. Mas as pessoas observam o que passa e o que fica retido nos filtros editoriais. Informações críticas podem colocar o veículo em situação delicada com governo ou anunciantes. É aceito o material sobre curiosidades, aberrações ou denúncias que quando muito servem para alimentar comentários como: - Todo político é corrupto... - Olha o que fazem com os nossos impostos... - Ricos nunca são presos...

A situação é muito parecida com a das gravadoras que lutam contra a pirataria argumentando o nobre interesse de defender os interesses dos artistas. Mas ficam em silêncio sobre a indústria do entretenimento que paga o famoso jabá para as FMs tocarem uma faixa e alavancarem as vendas de CDs. O consumidor não só é forçado a comprar um disco inteiro para escutar uma música, como ainda precisa pagar pela embalagem, pela distribuição e - claro - pela campanha de marketing.


Jornalismo participativo depende de relacionamento

Não existe um relacionamento do jornalista com o colaborador, o que descaracteriza o ambiente enquanto “comunidade”. ... Os cidadãos repórteres não se conhecem. ... Não há sentimento algum de pertença. Sendo assim, qual o interesse que essa galera vai ter para moderar aquele conteúdo e ajudar o espaço - que nem é delas - a crescer? Esse relacionamento jornalista-colaborador é requisito para um sistema de auto-moderação.

Acho que o relacionamento é o ponto central no processo de renovação do ofício do jornalista.

O jornalista está desacostumado a ouvir e a audiência está despreparada para falar. Dá trabalho começar esse diálogo, mas é o caminho. Agora, discordo que a utilização da auto-moderação dependa disso. O Digg.com e outros sites não surgiram como veículos jornalísticos, não têm redação, não produzem conteúdo original, e o relacionamento que existe, quando existe, é entre os participantes.

Além disso