Q de Queda*
Acima o depoimento de uma foliã assustada. A câmera suspensa por um cabo de aço, utilizada na cobertura do Carnaval 2009 da Rede Globo, caiu perto de onde ela estava. Segundo o blog da emissora – que cobriu o evento em tempo real -, não havia ninguém sentado onde a câmera caiu, mas o cabo partido feriu seis pessoas. Duas tiveram que ser encaminhadas ao Hospital Municipal Souza Aguiar, que fica próximo ao sambódromo.
A empresa responsável pelo equipamento é americana e ficou de averiguar o que poderia ter ocasionado o acidente. Até agora a Cable Cam não divulgou nenhuma nota sobre o ocorrido.
Em entrevista ao jornal carioca O Dia, Álvaro Travassos, que mora em São Paulo, conta que sofreu queimaduras e que o problema ocorreu quando assistia ao desfile da Mangueira, sua escola preferida. Ele pagou R$ 300 para assistir ao desfile, na Arquibancada 7. Segundo o jornal, Álvaro ainda não sabe se entrará com um processo contra a emissora.
Em comunicado oficial à imprensa, a Rede Globo se limitou a informar que os ferimentos foram “leves”, minimizando a gravidade do acidente, e pediu desculpas pelo ocorrido. Confira:
“Um acidente com a câmera aérea usada pela TV Globo, na transmissão do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, provocou escoriações leves em seis pessoas esta madrugada no Sambódromo. O cabo que sustentava a câmera se partiu, provocando a queda do equipamento numa das frisas do setor 09, onde não havia ninguém no momento. Ao se soltar, o cabo atingiu seis pessoas que foram atendidas no local e passam bem. Quatro foram atendidas e liberadas no posto médico do próprio Sambódromo. Outras duas, com a assistência da emissora, foram levadas ao Hospital Souza Aguiar para exames complementares e também liberadas. Técnicos americanos da empresa Cable Cam, que opera o equipamento, estão analisando as causas do acidente. A TV Globo se desculpa pelo ocorrido”.
*A brincadeira é uma referência aos comerciais da Globo sobre o ‘Q’ de qualidade e da resposta da Record, que dizia que o ‘Q’ era de queda. Dessa vez a queda da câmera.
por Zeca Camargo
editado por Gustavo Nolasco
Sei que a combinação acima parece improvável. Afinal, como eles são uma banda brasileira e - ainda mais complicado - vêm de Curitiba, a reação natural aqui no Brasil é, claro, de deboche diante do tremendo sucesso que eles fazem lá fora. Até bem pouco tempo, minha atitude com relação ao “bohn-jay doh roh-lay” (como os fãs de língua inglesa são orientados a pronunciar), era de mera curiosidade, ligeiramente influenciado pela postura geral - afinal de contas, sou brasileiro e, como poucos talvez tenham coragem de admitir, muitas vezes embarco nessa onda de diminuir (ou, pelo menos, desconfiar fortemente) de alguma coisa que faz sucesso antes “no estrangeiro”…Esse nosso comportamento atávico, porém, não é o único motivo que um não-iniciado tem para implicar com a banda. Quer que eu liste alguns outros aqui? Bem, já mencionei que eles são de Curitiba - um complicador, pois os coloca fora do circuito dominante da mídia. Nome e logotipo da banda são realmente odiosos - e não apenas de um mau gosto irônico… são simplesmente ruins. São descritos, em qualquer biografia rápida, como uma banda eletrônica - rótulo que, em qualquer círculo de crítica de música “séria” não inspira confiança. Pior: o gênero que tocam não é apenas “música eletrônica”, mas o “bali funk”, que poderia ser um verdadeiramente inédito gênero musical, mas é só mais uma maneira divertida de escrever “funk carioca” - algo que deve deixar não só os próprios cariocas muito irados (e não da maneira como eles usam o adjetivo na praia), mas também provocar, no que lhes é mais caro, os teóricos do próprio funk carioca (que não são poucos), que julgam os curitibanos meros usurpadores de um pop (que, diga-se, nunca foi muito original).
O fato é que fui vencido na minha resistência - e resolvi superar todos esses preconceitos ao me deparar, bem na entrada de uma loja de música que eu respeito, em Londres, com o EP de “Office boy” - com remixes de Brodinski, Architeture in Helsinki, Shir Kahn (que eu não tinha idéia de quem era, mas que fez o melhor “cozido”) e, surpresa, CSS (abreviação oportuna da outra banda brasileira da moda no circuito alternativo internacional, que os ingleses devem pronunciar “ken-say gee-sehrr sexy”).
A primeira sensação veio sem pensar: o mundo está de cabeça para baixo. Era isso mesmo que eu estava vendo? Era. Resolvi comprar o EP - vinil, só para lembrar de quando eu era mesmo um DJ (para ser honesto, eu nem tinha opção: só encontrei esse lançamento nesse formato). E, aos poucos, o mundo foi voltando a fazer sentido.
Se você é fã do Bonde - e está lendo até aqui para ver, afinal, o que eu vou falar deles -, já conhece “Office boy” (e, como eu, talvez se pergunte porque eles demoraram tanto para lançar essa faixa como “single”). Para os iniciados, porém, vale esclarecer que é uma das músicas mais debochadas a sair deste nosso caldo cultural em muitos e muitos anos (com tanta gente tentando fazer música - mesmo pop - a sério neste país, não é à toa que o Bonde chama atenção, justamente por ir totalmente na contramão). Batida funk, sim (se bem que ela foi praticamente desconstruída em todos esses remixes do EP); canto anasalado, sim (a tentativa da Marina, a vocalista, de soar como tchutchuca é risível e, como em quase tudo que se refere à banda, fica sempre difícil saber o que é intencional ou acidental); corinho infame, sim (”ano inteiro trabalhando de office boy/ pra no final do ano pagar de playboy”); letra calculadamente provocante, sim (”a galera esfrega o pinto na dama da lotação”); ah, e é ultra-dançante, sim. Ou seja, todos os ingredientes de um clássico instantâneo… Então por que não aproveitar?
Ah, mas gostar de Bonde do Rolê? Para que perder tempo com “Office boy” - ou mesmo com o resto do disco deles?
Perguntas difíceis… Quem, como eu, chega atrasado à “descoberta” tem poucas opções. Se falar que gosta, à essa altura, vão dizer que é porque agora que a banda faz sucesso lá fora, você está pegando uma carona na “modinha”. Se ignorar, vai ser mais um mané que se junta ao enorme time de programadores de FMs convencionais que simplesmente desejariam que a banda nunca tivesse existido assim eles não teriam de se lembrar, a cada playlist que fecham, que eles estão deixando de fora um incômodo “hit” internacional. Se ouvir escondido, vai se sentir reprimido e com medo de que alguém do seu lado perceba e isso manche para sempre sua reputação. O que fazer?
Bem, você pode ouvir New Young Pony Club e, assim, preservar sua imagem de “descolado”. Como qualquer moderno de plantão sabe, eles são a nova tentativa de emplacar os anos 80 como a década mais influente da música pop, e geralmente (como no site Last.fm) são associados musicalmente ao Bonde. Não são ruins - na verdade, são bastante engraçados e, em faixas como “Hiding on the staircase” (fortemente calcada em Siouxie and the Banshees), “Ice cream” (viva Heaven 17!!), “Jerk me” (seria aí que o Tom Tom Club iria parar se não tivessem desistido?) e “Talking talking” (Falco! Falco!), eles superam as expectativas. E são ingleses - logo, não só inofensivos às suas credencias “alternativas”, como quase um selo de aprovação do seu bom gosto “cult”.
Mas eu vou sugerir aqui que você escute sim - e goste - do Bonde do Rolê. Não são melhores do que meia dúzia de pequenos delírios recentes das pistas de dança (como Junior Senior, por exemplo), nem piores do que a maior parte do horário das 18h às 19h nas rádios comerciais. Não vai doer e, quem sabe você até não tira uma lição? Em meio a tanta gente desesperada por um pouco de credibilidade, bato palmas para quem faz um convite tão besta quanto: “solta o frango e vem com a gente”.
Pra soltar o frango, nada melhor do que ouvir mais 'Bohn-jay doh Roh-lay':
Marina do Bairro
Quero te Amar
Além dissoVEJA: A campeã de SP e o que a Cecília pensa sobre tudo isso. É só ir...
Depois do Carnaval
por Cecília Meirelles
Terminado o carnaval, eis que nos encontramos com os seus melancólicos despojos: pelas ruas desertas, os pavilhões, arquibancadas e passarelas são uns tristes esqueletos de madeira; oscilam no ar farrapos de ornamentos sem sentido, magros, amarelos e encarnados, batidos pelo vento, enrodilhados em suas cordas; torres coloridas, como desmesurados brinquedos, sustentam-se de pé, intrusas, anômalas, entre as árvores e os postes. Acabou-se o artifício, desmanchou-se a mágica, volta-se à realidade. À chamada realidade. Pois, por detrás disto que aparentamos ser, leva cada um de nós a preocupação de um desejo oculto, de uma vocação ou de um capricho que apenas o Carnaval permite que se manifestem com toda a sua força, por um ano inteiro contida. Somos um povo muito variado e mesmo contraditório; o que para alguns parecerá defeito é, para outros, encanto. Quem diria que tantas pessoas bem comportadas, e aparentemente elegantes e finas, alimentam, durante trezentos dias do ano, o modesto sonho de serem ursos, macacos, onças, gatos e outros bichos? Quem diria que há tantas vocações para índios e escravas gregas, neste país de letrados e de liberdade? Por outro lado, neste chamado país subdesenvolvido, quem poderia imaginar que tantos reis e imperadores, princesas de Mil e Uma Noites, soberanos fantásticos, banhados em esplendores que, se não são propriamente das minas de Golconda, resultam, afinal, mais caros: pois se as gemas verdadeiras têm valor por toda a vida, estas, de preço não desprezível, se destinam a durar somente algumas horas.
Neste país tão avançado e liberal - segundo dizem - há milhares de corações imperiais, milhares de sonhos profundamente comprimidos mas que explodem, no Carnaval, com suas anquinhas e casacas, cartolas e coroas, mantos roçagantes (espanejemos o adjetivo), cetros, luvas e outros acessórios. Aliás, em matéria de reinados, vamos do Rei do Chumbo ao da Voz, passando pelo dos Cabritos e dos Parafusos: como se pode ver no catálogo telefônico. Temos impérios vários, príncipes, imperatrizes, princesas, em etiquetas de roupa e em rótulos de bebidas. É o nosso sonho de grandeza, a nossa compensação, a valorização que damos aos nossos próprios méritos... Mas agora que o Carnaval passou, que vamos fazer de tantos quilos de miçangas, de tantos olhos faraônicos, de tantas coroas superpostas, de tantas plumas, leques, sombrinhas...?
"Ved de quán poco valor Son las cosas tras que andamos Y corremos..." dizia Jorge Manrique. E no século XV! E falamos de coisas de verdade! Mas os homens gostam da ilusão. E já vão preparar o próximo Carnaval...
Enquanto isso não acontece, a Mocidade fica Alegre:
A Era de Aquário e a mulecada
Fonte: G1
Garoto de 11 anos acusado de matar grávida pode pegar prisão perpétua;
Garoto de 9 anos admite que matou amigo do pai nos EUA;
Garoto de 13 anos é um dos pais mais jovens do Reino Unido;
No Brasil são vítimas
Fonte: G1
Menino de 4 anos é internado com facada no pescoço;
Padrasto é suspeito de violentar e matar enteada de 3 anos.
Além disso