OUÇA: Outras duas canções do bonde e o que o Zeca acha disso tudo. É só ir...

Bonde do Rolê. Sério.

por Zeca Camargo

editado por Gustavo Nolasco

Sei que a combinação acima parece improvável. Afinal, como eles são uma banda brasileira e - ainda mais complicado - vêm de Curitiba, a reação natural aqui no Brasil é, claro, de deboche diante do tremendo sucesso que eles fazem lá fora. Até bem pouco tempo, minha atitude com relação ao “bohn-jay doh roh-lay” (como os fãs de língua inglesa são orientados a pronunciar), era de mera curiosidade, ligeiramente influenciado pela postura geral - afinal de contas, sou brasileiro e, como poucos talvez tenham coragem de admitir, muitas vezes embarco nessa onda de diminuir (ou, pelo menos, desconfiar fortemente) de alguma coisa que faz sucesso antes “no estrangeiro”…Esse nosso comportamento atávico, porém, não é o único motivo que um não-iniciado tem para implicar com a banda. Quer que eu liste alguns outros aqui? Bem, já mencionei que eles são de Curitiba - um complicador, pois os coloca fora do circuito dominante da mídia. Nome e logotipo da banda são realmente odiosos - e não apenas de um mau gosto irônico… são simplesmente ruins. São descritos, em qualquer biografia rápida, como uma banda eletrônica - rótulo que, em qualquer círculo de crítica de música “séria” não inspira confiança. Pior: o gênero que tocam não é apenas “música eletrônica”, mas o “bali funk”, que poderia ser um verdadeiramente inédito gênero musical, mas é só mais uma maneira divertida de escrever “funk carioca” - algo que deve deixar não só os próprios cariocas muito irados (e não da maneira como eles usam o adjetivo na praia), mas também provocar, no que lhes é mais caro, os teóricos do próprio funk carioca (que não são poucos), que julgam os curitibanos meros usurpadores de um pop (que, diga-se, nunca foi muito original).

O fato é que fui vencido na minha resistência - e resolvi superar todos esses preconceitos ao me deparar, bem na entrada de uma loja de música que eu respeito, em Londres, com o EP de “Office boy” - com remixes de Brodinski, Architeture in Helsinki, Shir Kahn (que eu não tinha idéia de quem era, mas que fez o melhor “cozido”) e, surpresa, CSS (abreviação oportuna da outra banda brasileira da moda no circuito alternativo internacional, que os ingleses devem pronunciar “ken-say gee-sehrr sexy”).

A primeira sensação veio sem pensar: o mundo está de cabeça para baixo. Era isso mesmo que eu estava vendo? Era. Resolvi comprar o EP - vinil, só para lembrar de quando eu era mesmo um DJ (para ser honesto, eu nem tinha opção: só encontrei esse lançamento nesse formato). E, aos poucos, o mundo foi voltando a fazer sentido.

Se você é fã do Bonde - e está lendo até aqui para ver, afinal, o que eu vou falar deles -, já conhece “Office boy” (e, como eu, talvez se pergunte porque eles demoraram tanto para lançar essa faixa como “single”). Para os iniciados, porém, vale esclarecer que é uma das músicas mais debochadas a sair deste nosso caldo cultural em muitos e muitos anos (com tanta gente tentando fazer música - mesmo pop - a sério neste país, não é à toa que o Bonde chama atenção, justamente por ir totalmente na contramão). Batida funk, sim (se bem que ela foi praticamente desconstruída em todos esses remixes do EP); canto anasalado, sim (a tentativa da Marina, a vocalista, de soar como tchutchuca é risível e, como em quase tudo que se refere à banda, fica sempre difícil saber o que é intencional ou acidental); corinho infame, sim (”ano inteiro trabalhando de office boy/ pra no final do ano pagar de playboy”); letra calculadamente provocante, sim (”a galera esfrega o pinto na dama da lotação”); ah, e é ultra-dançante, sim. Ou seja, todos os ingredientes de um clássico instantâneo… Então por que não aproveitar?

Ah, mas gostar de Bonde do Rolê? Para que perder tempo com “Office boy” - ou mesmo com o resto do disco deles?

Perguntas difíceis… Quem, como eu, chega atrasado à “descoberta” tem poucas opções. Se falar que gosta, à essa altura, vão dizer que é porque agora que a banda faz sucesso lá fora, você está pegando uma carona na “modinha”. Se ignorar, vai ser mais um mané que se junta ao enorme time de programadores de FMs convencionais que simplesmente desejariam que a banda nunca tivesse existido assim eles não teriam de se lembrar, a cada playlist que fecham, que eles estão deixando de fora um incômodo “hit” internacional. Se ouvir escondido, vai se sentir reprimido e com medo de que alguém do seu lado perceba e isso manche para sempre sua reputação. O que fazer?

Bem, você pode ouvir New Young Pony Club e, assim, preservar sua imagem de “descolado”. Como qualquer moderno de plantão sabe, eles são a nova tentativa de emplacar os anos 80 como a década mais influente da música pop, e geralmente (como no site Last.fm) são associados musicalmente ao Bonde. Não são ruins - na verdade, são bastante engraçados e, em faixas como “Hiding on the staircase” (fortemente calcada em Siouxie and the Banshees), “Ice cream” (viva Heaven 17!!), “Jerk me” (seria aí que o Tom Tom Club iria parar se não tivessem desistido?) e “Talking talking” (Falco! Falco!), eles superam as expectativas. E são ingleses - logo, não só inofensivos às suas credencias “alternativas”, como quase um selo de aprovação do seu bom gosto “cult”.

Mas eu vou sugerir aqui que você escute sim - e goste - do Bonde do Rolê. Não são melhores do que meia dúzia de pequenos delírios recentes das pistas de dança (como Junior Senior, por exemplo), nem piores do que a maior parte do horário das 18h às 19h nas rádios comerciais. Não vai doer e, quem sabe você até não tira uma lição? Em meio a tanta gente desesperada por um pouco de credibilidade, bato palmas para quem faz um convite tão besta quanto: “solta o frango e vem com a gente”.

Pra soltar o frango, nada melhor do que ouvir mais 'Bohn-jay doh Roh-lay':

Marina do Bairro

Quero te Amar

Um comentário:

  1. Conheço o Bonde do Rolê desde sua primeira formação, realmente não são reconhecidos em nosso pais, mesmo com a MTV tentando colocar os caras em evidência com um programa só deles.

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