DE FATO: “ A opinião diz quente ou frio, mas a realidade são átomos e espaço vazio”. Frase de Auto-Engano, livro de Eduardo Gianetti. Acima, cena de Lie to Me,série de Samuel Baum, ainda em exibição pela Fox. É a mentira fascinando em 2009. Para saber por que mentimos tanto, vá...


Eu te amo

por Gustavo Nolasco

“Não é só a beleza que está nos olhos de quem a vê. Todas as sensações de dor e prazer, tudo o que pensamos, sentimos e sonhamos, todas as nossas percepções sensoriais de luz, cor, som, gostos, cheiros, calor e frio, em suma, tudo que é mental não pertence a realidade objetiva e está para ela assim como, para retomar a analogia sugerida por Descartes em Le Monde, o nome das coisas está paras as próprias coisas. O calor não está na chama, a doçura não está no doce. Se alguém roçar levemente uma pluma em sua axila ou sola do pé, você sentirá uma sensação formigante de cócegas. A realidade dirá Descartes, é a ação da pluma sobre a pele e o nervo e toda a cadeia de processos neurológicos mensuráveis que essa ação deflagra. Os efeitos subjetivos dela – nossa experiência íntima dessa fricção inocente – não passam de cócegas mentais”. Trecho de Auto-Engano, livro de Eduardo Gianetti.

E quantas cócegas mentas não sentimos para dizer, em tempos de internet, que amamos com facilidade. Em contrapartida, existe a galera que se opõe a isso para não parecer fútil demais. É o futuro do amor, on-line. Um auto-engano. Uma cócega mental.

Mas por que nos mentimos tanto? Para sobreviver. Talvez.

A série Lie to me, de Samuel Baum, em exibição pela Fox, traz um cientista da mentira. Por meio de micro-expressões corporais, ele identifica a veracidade das informações de criminosos, políticos, policiais e de qualquer pessoa que cruzar seu caminho. Ele é viciado, não consegue se controlar. Doutor Cal Lightman, apesar de desvendar mentiras, mente com frequência.

Mas até mesmo saber disso, que mentira é um troço inerente a nós, demasiadamente humanos pode ser auto-engano. Pra ficar mais claro, vai aí mais um trechinho do livro do Eduardo:

“Não importa o que seja: pergunte a si mesmo se você conhece algo e você terá sérias razões para começar a duvidar. Antes de tudo cabe indagar, o que é conhecer? Depende é claro do nosso grau de exigência.”



O mistério da mentira

por Norbert Lieth

 As "palavras certas" no convívio com os outros são cada vez mais pura mentira. Pois apresentar a verdade em doses reduzidas facilita a vida. Os americanos chamam essa "forma elaborada" de comunicação de "mentiras brancas". Aqueles que sempre dizem a verdade são considerados irremediavelmente ingênuos. Além disso, eles facilmente ganham inimigos. Calcula-se que uma mentira vem aos nossos lábios cerca de 200 vezes por dia, em média uma a cada 5 minutos. Começando por falsos elogios ("Você está com excelente aparência!") até mentiras descaradas ("Hoje eu não posso ir ao escritório, estou gripado").

Há alguns anos ocupam-se com o mistério da mentira não apenas filósofos, mas também cientistas políticos e psicólogos. O resultado das pesquisas sobre a mentira:

– Mentira e engano estão nos nossos genes, foram e são o motor da evolução. Os biólogos presumem que o desenvolvimento do cérebro humano só foi possível por ter que lidar com enganos.

– Nós adulamos, engodamos e sorrimos diariamente com olhar inocente para manter uma boa atmosfera ou para nos apresentar numa luz mais favorável. Principalmente os cônjuges e familiares são enganados de maneira intensa. Eles são vítimas de dois terços de todas as mentiras graves – segundo as análises de diários da psicóloga americana Bella DePaulo da Universidade da Virgínia em Charlottesville.

– Talento para enganar é sinal de inteligência – um fator de sucesso, tão útil como perspicácia, intuição ou criatividade. "O sucesso profissional de um executivo depende em 80% da sua inteligência social", afirma Howard Gardner, psicólogo da Harvard School of Education. Também Peter Stiegnitz, um pesquisador da mentira em Viena (Áustria), pensa que os "carreiristas preferem trabalhar com jeito e charme ao invés de fazê-lo com aplicação e perseverança".

O objetivo da educação diplomática: as crianças já aprendem desde cedo que é melhor não dizer à sua antipática tia que acham o beijo lambuzado dela nojento. A alegria dissimulada da mãe ao receber o presente de Natal inútil, os doces escondidos furtivamente e a lei do silêncio sobre inconvenientes familiares são modelos e treinamento para as mentiras diárias no futuro.

Entretanto, as crianças só compreendem a necessidade de mentir entre o segundo e quarto ano de vida, e isso ocorre tanto mais cedo quanto mais inteligentes elas forem. Até então elas não sabem distinguir entre fantasia e realidade. Quando descobrem, então, quão refinadamente é possível lograr os outros, elas o fazem primeiramente em proveito próprio – a fim de evitar castigos ou para receber alguma recompensa. Mais ou menos a partir dos oito anos de idade elas aprendem a diferenciar a simpatia verdadeira da falsa.

No máximo durante a adolescência os jovens aprendem a distinguir com certa precisão se alguém está sendo sincero ou não... (Focus)

É vergonhoso como hoje em dia se lida levianamente com o conceito "mentira" ou com a própria mentira. Há pesquisas e estudos sobre a mentira, tenta-se explicá-la, procura-se a sua origem, mas em geral ela é considerada inofensiva, sim, até mesmo uma necessidade da vida e, em última análise, como algo bom.

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