VEJA: Acima trabalho da Addicted TV - um remix do filme. Além disso, uma análise dos motivos que fizeram do Favelado Milionário um sucesso de público, crítica e melodrama. Vá...

Piegas, mas envolvente

por Gustavo Nolasco

Estava cheio de preconceitos. De saco cheio da Índia. A da Glória Perez, a dos noticiários, a da moda, a da música, das ruas e da que se assemelha ao Brasil. Mas um murmurinho intenso me levou a Slumdog Millionaire. Antes mesmo dos oito Oscar.

Acho que estava um pouco sensível, o filme me fez chorar.

Não pela história, um romance adolescente a mais. Mas a forma.

É um filme bem fotografado. A beleza, mesmo a de um garoto caindo na merda para ver o ídolo, mexe com as emoções.

A maior parte das pessoas quer que Jamal Malik seja milionário, e olha que dessa vez o foco não é no dinheiro. O favelado protagonista quer ser visto e escolheu o programa preferido da também favelada milionária para aparecer.

O Show do Milhão da Índia dá direito a brincadeiras do apresentador que humilham o rapaz do chá – Jamal era assistente de telefonista -, mas davam lugar a respostas humilhantes também. Afinal, estava ou não estava escrito?

Favela e tecnologia pintam não só a trajetória dos irmãos Malik, como também a trajetória do país que nesse aspecto, se encontra com o Brasil. Até a galinha de Cidade de Deus, de Fernando Meireles, tem seus segundos de fama.

Pra terminar, além do final que todo mundo já sabia. Dança, a la bollywood.

Slumdog Millionaire não é genial. Cumpre o papel, conta uma boa história e emociona. Cinema é pra isso?         

 

 

Contextualizando

por Charles Helmich

 Até uns meses atrás, o cinema indiano se resumia ao mundo ocidental em três palavras-chaves: Bollywood, M. Night Shyamalan e Mira Nair. Isso até o Danny Boyle se entediar da sua terrinha nebulosa e levar sua câmera ágil para a Índia, onde rumou para rodar um filme. Realizador descompromissado, abraçou um projeto trivial: adaptar às telas o best-seller indiano Q & A, de Vikas Swarup - batizado posteriormente de Slumdog Millionaire (e por aqui Quem Quer Ser Um Milionário?) . Detalhe: ele teria que fazer isso com um orçamento modesto – pouco mais de U$ 15 milhões-, e contar com elenco formado por atores locais. Ou seja, uma co-produção longe de ser ambiciosa…

 

Terminadas as filmagens, Quem Quer Ser Um Milionário? foi para a edição e chegou silenciosamente às salas de cinemas americanas no fim de agosto. Passados seis meses do lançamento oficial, a  pergunta é inevitável: como um filme realizado na Índia com atores indianos e dirigido por um cineasta pouco convencional como Boyle faturou cerca de US$ 80 milhões, saiu consagrado nos principais festivais de cinema ganhando inclusive o Oscar de melhor filme? Mas o sucesso do “vira-lata milionário” se deve por muitas razões.

 

A principal delas: Danny Boyle. Se antes o britânico podia ser rotulado como “o cara que dirigiu Trainspotting e alcançou sucesso comercial com Extermínio” agora a coisa muda de figura. Um de seus méritos em Quem Quer Ser Um Milionário? foi adaptar um conto de fadas urbano, aliando a pirotecnia eletrizante dos trabalhos anteriores com a estética bollywoodiana. Em menores palavras: ele consegue contar uma história simples de maneira surpreendente.

  

O filme começa com uma interrogação: “Jamal Malik está a uma pergunta de ganhar 20 milhões de rúpias. Como ele conseguiu?” Um novo letreiro lança as alternativas. Terá Jamal (Dev Patel) trapaceado no jogo de perguntas e respostas? É sorte? Ele é um gênio? Ou…hmmm..está escrito? Com um recurso narrativo simples, Boyle arma a bomba que irá acionar lá no fim do filme. Mas até lá, o espectador ficará vidrado. 

 Na cena seguinte, descobrimos que Jamal é um menino pobre e sem estudo, de apenas 18 anos. Seu bom desempenho no jogo soa incoerente ao apresentador do programa que pede à polícia para torturá-lo até confessar a fraude. Na delegacia, o delegado ouve a trajetória insólita do garoto que apesar da pouca idade conviveu com a pobreza, o preconceito e a criminalidade.

 De origem muçulmana, Jamal cresceu sem rumo ao lado do irmão Salim, aliciado ao crime organizado, e de Latika (Freida Pinto), o grande amor da sua vida. Foi para reencontrá-la que ele se inscreveu no “show do milhão indiano”. E foi a luta pela sobrevivência o conhecimento que proporcionou a ele acertar as perguntas.       

 

Mumbai tecnológica

 

Entre flashbacks e o tempo corrente que meneiam a vida de Jamal, a câmera de Boyle registra uma trama onde a decadente e flagelada capital Bombaim dá lugar ao desenvolvimento social e a prosperidade tecnológica. Na infância, o protagonista é visto numa favela percorrendo vielas, casebres e animais. Uma cena em particular chama a atenção: a câmera abandona Jamal e passa a acompanhar uma galinha em movimento. Se Boyle não quis homenagear Fernando Meireles pela abertura de Cidade de Deus, ele emulou a cena inconscientemente. Das duas uma.         

 Na vida adulta do garoto vemos o renascimento de Bombaim, que passa a se chamar Mumbai. Salpicada de arranha-céus, a cidade que enriqueceu com a informática é captada com onipotência pelo diretor. E é do alto de um prédio em construção que Jamal reencontra Salim, então braço direito do traficante mais temido da região. É com a ajuda do irmão bastardo que ele conseguirá ter acesso ao seu prêmio mais valioso.         

 Todos esses elementos – amor, corrupção, violência e instinto- se harmonizam num desfecho previsível e melodramático. Um dramalhão escancarado com ares de fábula, no melhor estilo BollywoodAlie, portanto, essa despretensão com a crítica social e o ritmo eletrônico de Boyle e temos um dos filmes mais originais do ano. Nesse panorama, o roteiro adaptado de Simon Beaufoy funciona como catalisador no sentido equilibrar os excessos da trama. O final em ritmo de dança é uma homenagem tácita do diretor ao cinema indiano. 

 Numa trajetória marcada por bons momentos – os ótimos Traisnpotting e Cova Rasa- e outros nem tanto – o medianoSunshine e o péssimo A Praia- Danny Boyle encontra fora do país, o seu golpe de mestre. Com Quem Quer Ser Um Milionário? o diretor finalmente chegou no seu auge. Como ele conseguiu?       

 

A: Ele trapaceou

B. Ele é sortudo

C. Ele é BOM

D: Está escrito

 

Resposta fácil! 

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